My African House

Friday, July 21, 2006

14, 15 e 16 de Julho

Dia 14

Hoje começámos o dia de forma animada. Enquanto estávamos numa das intermináveis filas do trânsito Luandense, o Luís pediu ao Amaral para abrir o vidro ao lado de um dos vendedores de jornal, estendeu uma nota de 50Kz e recolheu o jornal.

Acto contínuo, o polícia de trânsito que estava 10m à frente junto ao semáforo (fechado) manda parar o Amaral e diz que o vai autuar por estar a provocar engarrafamento.

Todos percebemos que o carro cheio de ‘pulas’ lhe chamou a atenção e decidiu tentar a sorte ameaçando com uma multa. Para azar do Amaral - e do polícia – nenhum de nós mostrou a menor vontade de ‘agilizar a situação’. O Amaral recusou aceitar a multa e deixou os documentos com o polícia. Segundo ele, depois recorreria aos seus amigos no comando da polícia para resolver o problema. Como verificámos mais tarde, isso resultou.

A piada o resto do dia foi:
-Tu vê lá não andes tão devagar no passeio que ainda te multam. E mais! Ali atrás pareceu-me que respiraste de forma ofegante, isso é punido pelo código da estrada, ya?

Dia 15

Finalmente o grande dia, vamos para o Kissama. Acordámos cedinho e preparámos os sacos. Umas sandes, toalha de praia, t-shirt, uma camisola mais quente – é Cacimbo - e o edredon, já que a noite seria dormida numa tenda.

Antes das 8.30 já estamos no sítio combinado. Seguimos para a Guest-House onde estava o resto das pessoas e os jipes e ainda tivemos tempo de descobrir o que é uma Guest-House à séria..

Pouco depois das 9.30 estávamos 17 pessoas e muitas malas, instalados nos 3 jipes e partimos rumo à que seria a primeira paragem: o mercado de Benfica

O mercado de Benfica é o grande entreposto comercial para expatriados na área de Luanda (fica a cerca de 1h do centro). Trata-se de um mercado especializado na venda de artesanato, num terreno de terra batida junto à estrada, que consiste em barracas de madeira, no meio de um musseque,

Entre outras particularidades, no mercado de Benfica temos que ter as mesmas precauções que em Luanda, mas multiplicadas por 10!!! Nada de relógios, carteiras ou dinheiro desnecessário. E quanto aos carros, esteve sempre alguém de guarda. Desta vez o Luís foi o voluntário e nem mesmo assim se escapou a que lhe tentassem vender uma aparelhagem com leitor mp3, umas chuteiras e uma bola de borracha.

Quanto aos restantes, fomos em grupos para o meio do mercado, tentando escapar ao assédio dos vendedores:

- Olá amigo, vê só minha tenda, ya? Peças de muita qualidade.
- Sim, obrigado, estou só a ver.
- Mas toca só, ya?
- Não obrigado.
- Vê só, ya?
. Deixa estar obrigado.
- Faz o preço só, ya?
- ….. (foda-se, mas ele não me desampara a loja hoje, ya?)

Já quase no último corredor do mercado, encontrei um pequeno macaquinho Saguim, preso com uma trela. Aproximo-me dele, estendo-lhe a mão, que ele agarra e trocamos pequenas festas na mão um do outro. Ao ver o meu interesse, o dono não resistiu:

- Quer o macaco? Quanto dá por ele?
Eu, aborrecido pelo oportunismo e pelo aspecto assustado do macaco quando vê o ‘dono’, respondo – Comprar isto? Para quê? Ele mal dá para uma refeição!

O olhar surpreendido e enfadado dele foi recompensa suficiente.

Cerca de uma hora depois, carregados de artesanato – especialmente a Susana que comprou, assim por alto, cerca de 2/3 do mercado - , lá vamos de regresso à estrada em direcção à praia de Cabo Ledo.

Embora não seja longe – em absoluto serão uns 80km – a viagem dura quase mais duas horas. À medida que Luanda fica para trás, a paisagem vai sendo cada vez mais de cortar a respiração. Passamos o Miradouro da Lua e a ponte sobre o Rio Kuanza (com a única portagem Angolana). Atravessada a ponte, entramos num outro mundo. A paisagem passa da cor de palha para o verde vivo de uma floresta exuberante. Poucas centenas de metros à frente, uma família de macacos que atravessava a estrada, torna-se na primeira vida selvagem que avistamos.

Pouco depois chegamos à saída para a praia de Cabo Ledo. Tivemos ainda o bónus de uns 5 km de terra batida, numas condições próximas das de trial para me fazer matar saudades do Todo-o-Terreno.

Estava um feio dia de Cacimbo, mas muitos tomaram banho. Foi o caso do Luís, já que eu e a Susana apenas caminhámos umas horas pela areia, numa paisagem indescritível.

Perto das 17 voltámos a entrar nos jipes para finalmente ir para o Parque de Kissama. Depois de percorridos os poucos kilómetros de alcatrão, chegamos à saída que dava início a 39km de terra batida, que levaram mais de uma hora a percorrer. Correndo o risco de me tornar repetitivo: que paisagem. A típica savana de filme, com Embondeiros, Castiçais (cactos do tamanho de árvores com forma que faz lembrar castiçais) e muitas outras espécies que não soubemos identificar. Tudo isto enquadrado por um pôr-do-sol do mais lindo que já vi.

Por fim, já de noite, chegamos ao Parque. Começamos por deixar as coisas nas tendas e vamos para o restaurante. O jantar em si nem foi nada de especial, mas o grupo revelou-se absolutamente fabuloso. Gente muito divertida, e interessante, o que proporcionou uma excelente noite de copos, sueca e brincadeira. O resultado é que nos deitámos depois das três e antes das seis estávamos levantados. E devo acrescentar que foi a primeira vez que tive frio em Angola; a noite estava verdadeiramente fria e houve mesmo quem não conseguisse dormir por isso.

Depois do pequeno-almoço sobre o Kuanza, lá subimos para o Unimog para o tão esperado Safari pelo parque. Quanto a animais propriamente ditos, os avistamentos ficaram-se por uma família de seis girafas, umas gazelas assustadas, uma avestruz, alguns macacos e aves exóticas dos mais diversos tipos. Mas a paisagem, essa foi inesquecível.

Depois do passeio, cansados, com sono e com os rabos doridos, mas muito satisfeitos, entrámos nos jipes e regressámos a casa.

Pela minha parte, tomei banho comi cereais e deitei-me às 6 da tarde para acordar às 6:40 do dia seguinte. Embora não me lembre de nada, o Luís assegurou-me que fez o mesmo. Só a Susana teve medo de dormir demais e parece que ficou acordada até tarde.

Deixei propositadamente para o fim o episódio que se tornou na anedota do fim-de-semana: Os esquilos.

Quando fazíamos a ligação de 39km pelo meio do mato até à entrada no Parque, o Luís gritou satisfeito que tinha visto um esquilo a descer um cacto. Todos nós ficámos surpreendidos e, não vou mentir, bastante cépticos quanto à veracidade senão do avistamento, pelo menos da espécie do animal. Afinal estávamos todos convencidos que isso era coisa dos parques, jardins e florestas da Europa e América do Norte.

Como não se visse nem vislumbre de mais nenhum esquilo, decidimos perguntar aos outros carros e contar que o Luís tinha visto um. A risota foi geral; ninguém acreditou que houvesse esquilos em África e todos acharam que o Luís já tinha a dose de cerveja do dia.

À entrada do parque, um guarda bastante simpático confirmou que sim, que havia esquilos, mas disse que eram uma espécie de ‘ratos cabeludos’ o que completou o material de que são feitas as anedotas.

Daqui para a frente, o que quer que acontecesse tinha sido feito pelos esquilos do Luís e mesmo no Unimog, o animal mais avistado foi de longe o esquilo que espreitava a cada esquina.

O Luís só se salvou porque pouco antes de sairmos do parque eu avistei um esquilo e chamei a atenção para o A. que de câmara fotográfica em riste registou a prova da existência dos tais ratos cabeludos no Kissama Parque. Ainda assim, quer-me parecer que para maioria das pessoas do grupo, o Luís estará sempre ligado aos esquilos.

1 Comments:

At 5:51 PM, Blogger KooKa said...

Para quando os dias 17, 18 e 19, hum? ;)*

 

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