My African House

Thursday, March 04, 2010

E ao fim de 5 dias já estou adaptado ao novo fuso horário e à nova rotina. Levanto-me às 6.30h, já o sol vai alto e vou para o ginásio do hotel. Tudo isto para conseguir começar a trabalhar às 8.00. Seguem-se 10 a 11h de escritório, o que significa que quando saio já escureceu há um bom bocado.

Mas o bem q sabe o calor quando chegamos à rua. O fantástico que é sentir a animação nas ruas, a música nos bares...

Lamento caros amigos em Lisboa, mas isto é muito melhor que estar aí enfiado à chuva :D

Monday, March 01, 2010

Maputo, Março 2010




Desde Novembro que não sentia os cheiros e o quente húmido ar de África. Entro no edifício do aeroporto de Maputo e a ‘familiar’ confusão de um aeroporto Africano tem um estranho sabor reconfortante. Quase um regresso a casa.

Sento-me no taxi, meto conversa com o taxista e faço o percurso até ao hotel, a responder monossilabos e a absorver toda a vida de Maputo que se desenrola lá fora.

Estranha sensação esta de chegar a casa tendo deixado casa e os que amamos. Estou cansado, as 11h sentado no avião amoleceram-me. África é alegria, não é nostalgia.
Acordo de manha com a brutal vista da varanda do quarto e mal posso esperar por ir para a rua. Passeio, compro um nr telefone local, passeio mais, meto conversa com mais taxistas e volto ao hotel para meia hora de ginásio antes de ir almoçar.

Apanho sol na piscina, leio, inspiro os cheiros e os sons. Como consigo viver sem África?

Friday, October 03, 2008

Moçambique é 'maningue nice' *

Pois foi, estava decidido que queria mesmo conhecer Moçambique e tudo se conjugou para o fazer acontecer. As viagens para Angola estão em ‘hold’ e Mz é um mercado que importa conhecer… nada melhor que pegar na mochila e ir até lá.

Tudo em Mz superou as minhas expectativas! É apenas justo que comece por dizer isto. E convenhamos, quem me está a ler neste blog, sabe que não sou exactamente rookie nestas andanças por África.

O aeroporto de Maputo parece que saiu da máquina do tempo, mas, ao contrário do de Luanda, veio bem preservado e com melhorias. As pessoas são simpáticas e o visto, imagine-se, foi-me concedido no aeroporto, à chegada, sem nenhumas perguntas feitas.

À saída do aeroporto tinha a Sylvia e o Miguel à espera, os meus únicos contactos em Mz e que nem sequer conhecia pessoalmente. E sobre eles ouvirão falar mais vezes de certeza; senti-me tão em casa como se estivesse mesmo em casa. Eles e todas as outras pessoas que fui conhecendo ao longo destes fantásticos 10 dias e de que vos vou falar mais adiante.

Sobre Maputo, as fotos são elucidativas, mas para quem está habituado a Luanda, a diferença é enorme. Maputo é ampla, limpa, segura e ordenada e – não fora o hábito de conduzirem do lado errado da estrada – podia bem ser uma cidade Europeia, só que melhor. Melhor porque tem as cores, os cheiros e as gentes de África e melhor porque tem o Índico como moldura.






Infelizmente, o tempo neste início de verão em Maputo estava o equivalente a uma primavera europeia. Bom para andar sem mangas de dia, mas menos bom à noite. Mas nem isso me tirou a vontade de lá ficar. Em Maputo fiquei inicialmente dois dias; o suficiente para levar o Miguel ao aeroporto de volta a Lisboa e ainda acompanhar a Sylvia numa reunião, com ar muito profissional (consegui mesmo não me rir, apesar do espanto dos nossos interlocutores); Foi ainda em Maputo que conheci o Daniel, que veio a ser parceiro de férias e caminhadas uns dias depois em Nampula.





Ao 3º dia apanhámos o avião para Nampula. Conheci a Raquel que nos trouxe o carro e fomos para as Chocas. Um sítio chatíssimo, onde estivemos com o Daniel e a Ana a apanhar uma terrível seca, rodeados de mar azul-turquesa, areia branca e com a Ilha de Moçambique ao fundo. Felizmente, fomos salvos de uma atroz morte de tédio pelo knowledge da Sylvia na preparação artesanal de caipirinhas e pelos dotes negociais da Ana e do Daniel na compra de caranguejos. Fácil de ver que eu detinha os dotes complementares: comer caranguejo e beber caipirinha – dotes estes que me valeram mais 4kg no fim da viagem.



Eu com a Ana e o Daniel


A Sylvia a fazer caipirinhas com micro-limas e vodka





A Ilha de Moçambique é mais um daqueles sítios mágicos, que dificilmente se descreve por palavras ou imagens. Precisa ser sentido, percorrido e vivido. Foi isso que fizemos e foram momentos que não vou esquecer.







Nacala foi o destino seguinte e o Bay Diving lodge, o local de alojamento. Dizer que tinha uma vista deslumbrante para a baía, é um understatement. Ainda por cima, com o bónus adicional de ver as baleias a nadar em busca de alimento de manhã e ao fim da tarde. Aqui conhecemos o Bastian; um alemão sozinho em passeio por África, com quem partilhámos algumas horas de barco e uma festa de fogueira com o Kingsley Holgate. Um sul-africano que conhecemos na noite em que se despedia do tradicional barco à vela do Índico, com que tinha acabado de circum-navegar África em 448 dias.


O Bay Diving


A vista ao pequeno almoço (6.30h)


Bastian, o amigo alemão



Uma baleia menos tímida

Um dia de paragem de Novo em Nampula, onde conheci o museu de etnologia (ena, um museu!!!) e foi o regresso a Maputo, com muita pena minha, deixando para trás dias muito felizes e alguns fantásticos amigos novos.


A Raquel na loja do museu

A voltar, de certeza e em breve!



* - 'maningue nice' é a versão Moçambicana de 'bué fixe'

Monday, August 04, 2008

27 meses em Angola

Parece que foi ontem, mas já lá vão 27 meses desde que comecei esta minha experiência Angolana. E 13 anos desde que estive aqui a primeira vez. Torna-se evidente, que Angola e toda a experiência de vida aqui, me marcaram e marcam profundamente.

Qualquer pessoa que passe pela experiência de viver longe de casa, sabe ao que me refiro se falar do turbilhão de emoções contraditórias. Da montanha russa de emoções. Nuns sítios eventualmente menos evidente, mas num local tão mágico e tão diferente como a África Subsaariana, seguramente muito intensa.

No momento que escrevo estas linhas, estou sentado no lounge do 4 de Fevereiro a aguardar o voo tap para Lisboa. E sinto-me numa dessas voltas de montanha russa. Sensação aliás, que acompanhou as minhas últimas semanas aqui. São tantas as coisas que me fazem querer regressar a Lisboa, mas … em simultâneo, são tantas as coisas que me fazem não querer entrar no avião e ficar por cá. Bons amigos (Cátia e Décio, vocês sabem o quanto têm sido importantes para mim), uma vida diferente, longe do fútil e superficial, mais rica do que realmente importa.

Esta é uma experiência que não deixa ninguém indiferente e não lamento nem por um minuto ter embarcado nesta viagem. Embora esteja de novo numa daquelas encruzilhadas da vida, África é seguramente um dos caminhos que mais me apetece percorrer.

N. Srª da Muxima

O passeio deste fim-de-semana à Muxima marca, de certa forma, o regresso aos passeios depois de algum tempo de inactividade.

Combinei cedinho com o Décio e a Cátia e assim, logo às 8.00 estávamos a sair em direcção À Samba, onde fomos ter com o Nelson e a Helena. Experimentámos a pouco habitual ausência de trânsito na estrada até à Corimba e lá seguimos rumo a sul. Íamos todos convencidos que da estrada de Cano Ledo à N. Srª da Muxima eram uns 40 km, pelo que, quando ao entrar na estrada de terra batida nos deparámos com a placa a informar que estávamos a 120km da Muxima, sentimos todos necessidade de parar o carro na berma e comer qualquer coisa para ganhar coragem.




No entanto, a estrada custou bastante menos a fazer que aquilo que a princípio temíamos. Pelo menos a mim que dormi boa parte do caminho. Acordei no entanto a tempo de ver a pequena localidade a surgir ao fundo, nas margens do rio Kwanza.

Muxima é uma aldeia pequena, por qualquer padrão. É muitíssimo conhecida em Angola como destino religioso. Uma espécie de Fátima. Por isso mesmo, poucos expatriados sentem curiosidade de a visitar. No entanto, a única ligação da terra à religião, é uma igreja de tamanho médio, aparentando ser do séc. XVIII. Bem mais interessante é a paisagem e a fortaleza do sec XVI (I’m guessing here, ok; não me tomem por um guia de viagens) no cimo do monte que domina o povoado.






Na Muxima tivemos mais um daqueles momentos ‘Angola’. Era hora de almoço e naturalmente hesitámos entre as nossas sandes e um restaurante. Como descobrimos que o novo complexo turístico da Muxima tinha restaurante, a opinião unânime foi a de procurar comida no fresco de um sítio com ar condicionado. Assim foi. Perguntamos pelo restaurante à entrada do empreendimento e, depois de estacionar lá nos dirigimos para ele.

Entramos e somos surpreendidos pelo bom aspecto da coisa (ok… há que ter em conta q estamos a 250km de Luanda e no meio do mato; ‘bom aspecto’ refere-se às expectativas que tínhamos no momento). Entramos, perguntamos se podemos sentar e escolhemos mesa.

Como a senhora demorasse a vir ter connosco, o Nelson decidiu ir falar com ela. E foi nesse momento que descobrimos que… só serviam refeições com encomenda prévia. Mas e nem uma omeleta? – insistimos.
Que não, que a senhora estava cansada (estavam duas mesas ocupadas e eram 13h…).

Assim sendo, comprámos bebida e fomos aos carros buscar o farnel; ao menos aproveitava-se o ar condicionado.

Terminada a refeição decidimos voltar, mas por um caminho diferente. Este envolvia atravessar o kwanza numa barcaça (uma plataforma metálica com um motor de cada lado, para a qual sobem os carros) e seguir até Catete, apanhando aí a estrada – finalmente alcatroada – até Luanda, via Viana.


Wednesday, July 16, 2008

Demasiado tempo

19 de Fevereiro. Foi esta a data da última entrada neste blog. Cinco meses em que o blog-tempo parou; mas só mesmo esse.

Aconteceram imensas coisas neste período. Estive em Lisboa, de novo em Luanda e de novo em Lisboa. Hoje, 16 de Julho, acordei com o estremecer do avião a tocar a pista no 4 de Fevereiro em Luanda.

Estive os últimos dois meses em Lisboa, a olhar impotente o tempo a escoar-se e sem que nada conseguisse fazer para obter o visto de regresso.

E que dois meses. Em Lisboa, dois meses quase não trazem alterações, mas a Luanda que vi hoje, só remotamente lembra a de há dois meses. Batalhões de pessoas limpas as ruas. Há nas estradas um exército de operários e máquinas de asfaltar; nos prédios rodeados de andaimes, multidões reparam tudo.

Sei que estamos a poucos meses das eleições e isso pode explicar um pouco. O Governo Provincial de Luanda mudou de titular há pouco tempo e isso explicará outro pedaço. Mas a capacidade de transformação dete povo quando de decide a levar uma obra a cabo é surpreendente.

O centro da cidade está transformado. Prédios de cara lavada e pintados numa paleta de cores vivas como só em África se encontra. Ruas que antes eram crateras, são agora lisas como espelhos e o lixo parece finalmente estar sob controlo em vários pontos da cidade.

É bom ver-te assim, Luanda.

Tuesday, February 19, 2008

Há dias assim



Estava sentada na beira do passeio no espaço entre dois carros. A posição, ironicamente igual à do ‘pensador’, cotovelos apoiados nos joelhos com as mãos no rosto sujo. O corpo nu, completamente nu e nem o menor sinal de estar consciente disso.

O rosto tinha o olhar vazio de quem não espera mais da vida. Não um olhar louco. Um olhar triste e vazio de quem não pode ter menos. Nem um resto de pano cobria o corpo despido e maltratado desta mulher. Jovem ainda, sentada no passeio de uma das ruas mais movimentadas de Luanda.

As pessoas passavam indiferentes, afastando-se ligeiramente. Do interior dos seus carros de dezenas de milhar de dólares, parados na interminável fila de trânsito que é Luanda durante o dia, alguns deitavam olhares reprovadores.

Pareceu que só eu consegui ver um ser humano ali parado, no mais baixo patamar da pobreza, aquele em que um ser humano tem apenas o seu corpo. Nem um único pertence. Mas até eu, embora incapaz de esquecer o olhar devastadoramente vazio, me afastei, empurrado pelo pudor do corpo despido, sujo, ossudo, de quem não recebe nada da vida há muito.

A experiência Angolana tem mudado a minha perspectiva da vida. Desde logo, mudei todo o meu sistema de valores e sou agora menos – muito menos – ligado a bens materiais; por outro lado, criei uma capa que me permite conviver com a pobreza no dia a dia, sem deixar de dormir com isso, mas, quando esta tarde decidi caminhar os cerca de 2km desde a baixa ao Kinaxixe, não estava preparado para este murro no estômago.

A natureza humana consegue coisas muito desumanas.