Crónicas do Fim-do-Mundo (II)
Dia 3 – 17 de Maio
Desta vez não houve cães e foi mesmo por falta de sono que despertei alguns minutos antes dos galos anunciarem a aurora.
Tal como ontem, obtive um olhar espantado como resposta ao meu inabitual pequeno-almoço, mas preferi isso ao funge com carne e cerveja, da mesa ao lado.
Espantado fiquei também eu com a conversa ao pequeno-almoço; falava-se de tradições e superstições, algo em que a cultura africana é extremamente rica.. Anyway, a conversa tomou um rumo deveras arrepiante: comentavam-se as tradições de diversas zonas do país, pelas quais as avós paternas dos recém-nascidos devem comprovar a legitimidade dos netos; os métodos variam de província para província, mas vão do atirar o bebé ao chão e ver se sobrevive (!!!), ao enfiar a mão do bebé num buraco na terra.
Confesso que nem tive coragem de perguntar o que sucede aos que falham em tão exactos testes de linhagem.
Adiante, fomos ao escritório de manhã acabar todas as pontas soltas e ainda conseguimos sair a tempo de, antes de almoço, ir visitar o município do Missombo.
Missombo é um lugar histórico. Foi aqui que se esconderam os insurgentes do 4 de Fevereiro de 1961, o início da luta armada pela independência; é também aqui que está acantonado o 5º Batalhão das FAA, precisamente aquele que perseguiu e abateu Jonas Savimbi.
História à parte, o que mais me impressionou foi a massagem que a suspensão traseira da pick-up me deu nas costas ao longo dos 45 minutos que demorámos a percorrer os 15km de estrada. Conseguem imaginar o estado da estrada?
Da parte da tarde, as minhas companheiras de viagem insistiram com o nosso anfitrião para nos levar a um mercado, porque queriam comprar ‘Samacaca’ (panos tradicionais).
E assim fomos e foi um momento fantástico; fomos a um mercado enorme e labiríntico, com bancas de madeira que vendem de motas e geradores a cuecas e farinha de fuba. Poder andar por ali de máquina fotográfica na mão em segurança foi uma boa demonstração do quão calma é Menongue. Ainda assim, não consegui passar despercebido e em poucos minutos tinha um grupo de crianças a seguir todos os meus passos.
Regressados do mercado, acabei mesmo o livro do João Garcia, mas a boa notícia é que vamos ter voo para Luanda amanhã às 8:00.
4 Comments:
Quase me fazes saltar daqui directa para o avião ...
Obrigada pela referência ... estiveste lá perto ...
Bom regresso e aguardo as fotos,
Um beijinho
Foste ao mercado e não me trouxeste os tecidos que te pedi.... =(((((
*snif* *snif*
Amuei =(
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RC
Será que resolveste ficar por Terras do fim do Mundo :~)
Volta!! Estou à espera de novidades e noticias da minha terra!!
Beijinhos
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